Acanthosomatidae (Putshkov, 1959)

Grazia, Jocelia & Schwertner, Cristiano F., 2014, Acanthosomatidae, Biodiversidad de Artrópodos Argentinos, vol. 3, San Miguel Tucumán, Argentina: Universidad Nacional de Tucumán, pp. 399-402 : 399-401

publication ID

https://doi.org/ 10.5281/zenodo.4055854

DOI

https://doi.org/10.5281/zenodo.4323896

persistent identifier

https://treatment.plazi.org/id/038687E6-FFD2-FFD6-FCC5-AB0036CDA263

treatment provided by

Tatiana

scientific name

Acanthosomatidae
status

 

Introdução Acanthosomatidae View in CoL

representa uma das 15 famílias de Pentatomoidea , abrangendo cerca de 200 espécies e mais de 50 gêneros ( Kment, 2005; Grazia et al., 2008; Faundez, 2009). Foi reconhecida como táxon superior por Signoret (1864) e já foi tratada como uma subfamília ou tribo de Pentatomidae ( Schuh & Slater, 1995) . Inclui três subfamílias: Acanthosomatinae , Blaudinae (com as tribos Blaudini e Lanopini) e Ditomotarsinae (com as tribos Ditomotarsini e Laccophorellini) ( Kumar, 1974). De acordo com Gapud (1991), a família Acanthososmatidae está relacionada à Dinidoridae + Tessaratomidae e Scutelleridae , surgindo numa posição relativamente basal na filogenia de Pentatomoidea . Fischer (1994) reforçou a monofilia de Acanthosomati- dae com base em três sinapomorfias e uma homoplasia: presença de órgãos de Pendergrast; segmento VIII, nos machos, visível, não encoberto pelo segmento VII; fêmeas com órgão especializado para transmissão de simbiontes, e aberturas anteriores das glândulas odoríferas das ninfas mais afastadas entre si do que as aberturas medianas e posteriores, característica compartilhada com Scutelleridae .

Grazia et al. (2008), num estudo das relações filoge- néticas em Pentatomoidea com base em dados morfológicos e moleculares, corroboraram a monofilia de Acanthosomatidae , porém com posição variável no cladrograma, de acordo com as análises efetuadas: na morfológica o grupo apareceu relativamente basal enquanto que na molecular a família surgiu mais apicalmente e associada a Pentatomidae . Os caracteres morfológicos que sustentam a monofilia: tergito do VIII segmento abdominal, no macho, membranoso, e “triangulin” ausente, com membrana intergonocoxal lisa entre as gonapófises 8, na fêmea. Comissura claval obsoleta e pelos presentes nas garras são caracteres que corroboram a monofilia de Acantahosomatidae na análise de evidência total. Ambas análises mostraram uma relação de grupo-irmão entre Acanthosomatidae e Lestoniidae , esta última com ocorrência exclusiva na Austrália.

A distribuição de Acanthosomatidae é predominantemente austral, incluindo sul da África e da Argentina, Chile e Austrália; apenas a subfamília Acanthosomatinae apresenta espécies com distribuição nas regiões Neár tica e Paleártica. Afauna mundial foi monografada por Kumar (1974). Chaves para os gêneros do hemisfério ocidental são encontradas em Rolston & Kumar (1975). Os estudos mais recentes na Argentina foram feitos por Pennington (1920), Pirán (1948), Kormilev (1950, 1952), Froeschner (1997, 2000) e Faundez (2009). Contribuições clássicas com descrições de novos táxons foram realizadas no século XIX e início do século XX por Westwood (1837), Spinola (1850, 1852), Signoret (1864), Mayr (1864), Stål (1867, 1872), Haglund (1868), Distant (1911) e Bergroth (1917).

Adiversidade dos acantosomatídeos no mundo, na região Neotropical e na Argentina está representada no Tabela I View Tabela I . Na Argentina foram registradas 17 espécies distribuídas em 11 gêneros pertencentes à Ditomotarsini (Ditomotarsinae) e Lanopini (Blaudinae). Coletas certamente adicionarão várias espécies a esta listagem.

Características gerais

Os acantosomatídeos são reconhecidos por apresentarem tarsos dímeros e escutelo nunca recobrindo o cório. Variam entre 6-18 mm de comprimento. Antenas pentâmeras, tubérculos anteníferos não visíveis dorsalmente. Mesosterno carenado. Terceiro urosternito fre- qüentemente com espinho desenvolvido anteriormente. Tricobótrios pares nos esternitos abdominais III a VII, transversais. Machos como segmento abdominal VIII exposto. Fêmeas ususalmente com órgãos de Pendergrast (órgãos glandulares abdominais), arredondados ou ovalados, situados nos urosternitos V a VII ou apenas no VII. Margem posterior do urosternito VII profundamente emarginada.

Imaturos

Apenas duas espécies de Acanthosomatidae tiveram suas ninfas formalmente descritas ( Carter & Hoebeke, 2003; Martinez et al., 2003), uma delas com ocorrência registrada na Argentina. Southwood (1956) e Putshkov (1959) forneceram diagnoses para ovos e ninfas de várias famílias e espécies com distribuição na Europa, incluíndo Acanthosomatidae . Em relação ao estágio de ovo, quatro espécies neárticas de dois gêneros da subfamília Acanthosomatinae foram descritos por Cobben (1968), que também discute os dados disponíveis até então. Esses trabalhos permitem inferir que os imaturos da família compartilham os aspectos gerais dos imaturos das demais famílias de pentatomóideos (por ex. Grazia & Schwertner, 2008).

As principais características diagnósticas são: ovo de formato elíptico (com pólo anterior mais estreito); cório liso quando observado em microscopia óptica; processos aeromicropilares em forma de taça (‘aero-micropylar cup’; Cobben, 1968); ninfas com corpo ovalado; e aberturas anteriores das glândulas odorifera abdominais mais afastadas entre si do que as aberturas medianas e posteriores. As placas dorsais anteriores das ninfas de terceiro, quarto e quinto instares de Sinopla perpunctata [sic] Signoret são divididas longitudinalmente, formando placas pareadas ( Martinez et al., 2003). Essa característica é peculiar entre os imaturos de pentatomóideos, encontrada também em outras espécies de Acanthosomatidae ( Putshkov, 1959) , devendo ser mais estudada para confirmar seu valor diagnóstico.

Biologia

Poucas espécies de Acanthosomatidae tiveram a biologia estudada em detalhe até hoje; todos os estudos foram realizados com espécies paleárticas, principalmente naquelas que apresentam cuidado maternal dos imaturos (por ex. Kudo & Nakahira, 1993; Kudo, 2000). Estas espécies são encontradas nas regiões temperadas ou de altitude nos subtrópicos. Dados de biologia das espécies neotropicais incluem algumas observações em campo e registros de etiqueta de trabalhos taxonômicos e faunísticos.

Todos os acantosomatídeos são fitófagos, a maioria das espécies estudadas foi registrada em mais de uma hospedeira, geralmente árvores ou arbustos ( Kumar, 1974; Schaefer & Ahmad, 1987; Faundez 2007c; 2009). Em levantamento realizado junto à vegetação de borda de matas ripárias na região do Pampa no sul do Brasil ( Men- donça et al., 2009), Hellica nitida ( Fig. 1 View Fig ) foi uma das espécies mais abundantes de pentatomóideos, indicando a preferência desta espécie por esse tipo de vegetação. Os sítios preferenciais para alimentação incluem tecidos jovens, de rápido crescimento, e partes reprodutivas das hospedeiras ( Schaefer & Ahmad, 1987; Faundez, 2007 a, c). Existem registros casuais de espécies se alimentando em matéria orgânica em decomposição ou predação, incluíndo canibalismo ( Miller, 1971), estratégia prova velmente relacionada à falta de alimento em condições normais ( Schaefer & Ahmad, 1987).

Como para outros pentatomóideos, a polifagia parece ser a regra, mas podem ocorrer especializações em diferentes níveis, seja por partes ou tecidos das hospedeiras, até mesmo restrição a determinados táxons ( Schaefer & Ahmad, 1987; Faundez 2007 a, 2009). Sinopla perpunctatus , registrada apenas em Nothofagus spp . no Chile, é considerada especialista ( Faundez, 2007a; Osório, 2009), enquanto Acrophyma cumingii e Ditomotarsus punctiventris são consideradas generalistas ( Faundez, 2007b, 2009). Espécies de Anthosomatidae são encontradas em hospedeiras de diversas famílias de plantas, incluindo Aceraceae , Anacardiaceae , Apiaceae , Aquifoliaceae , Araliaceae , Asteraceae , Betulaceae , Ca- prifoliaceae, Casuarinaceae , Cornaceae , Cupressaceae , Cyperaceae , Fabaceae , Juncaceae , Moraceae , Myrta- ceae, Pinaceae , Poaceae , Proteaceae , Rhamnaceae , Rosaceae , Salicaceae e Tiliaceae .

Ociclo de vida das espécies corresponde, de uma maneira geral, àquele descrito para os pentatomídeos em ( Grazia & Schwertner, 2008). Faundez (2007b) faz umabreve descrição do ciclo devida de D. punctiventris , apresentando detalhes também do comportamento de cópula dessa espécie ( Faundez, 2007b; Faundez, 2007c). Os ovos são sempre colocados em conjuntos mais ou menos organizados, com número de ovos correspondendo ao número de ovaríolos presentes na fêmea (geralmente 10-14). Tempo de incubação dos ovos e de desenvolvimento das ninfas, período pré-reprodutivo das fêmeas e longevidade dos adultos ainda não foram estudados em nenhuma das espécies neotropicais. Ocuidado maternal é registrado apenas em espécies da subfamília Acanthosomatinae , cujas espécies não ocorrem na região Neotropical.

Importância econômica

Não existem registros de danos de espécies de Acan- thosomatidae à plantas cultivadas, portanto a família não apresenta importância econômica do ponto de vista agrícola.

Tabela I – Número de gêneros e espécies das subfamílias e tribos de Acanthosomatidae (Hemiptera) conhecidas para o mundo, região Neotropical e Argentina. (1 - com base em Schuh & Slater, 1995, atualizado com Froeschner, 1997, 2000 e Kment, 2005)

Subfamília Tribo Mundo 1 Neotrópico Argentina
    Gen spp. Gen spp. Gen spp.
Acanthosomatinae   16 132 1 1 0 0
Blaudinae   22 28 11 22 6 11
  Blaudini Lanopini 10 12 13 15 2 9 4 18 0 7 0 11
Ditomotarsinae   16 18 7 12 5 6
  Ditomotarsini Laccophorellini 12 4 14 4 7 0 12 0 5 0 6 0
Total   54 178 19 53 11 17
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