Phyllomedusa megacephala ( Miranda-Ribeiro, 1926

Caramaschi, Ulisses, 2006, Redefinição Do Grupo De Phyllomedusa Hypochondrialis, Com Redescrição De P. Megacephala (Miranda-Ribeiro, 1926), Revalidação De P. Azurea Cope, 1862 E Descrição De Uma Nova Espécie (Amphibia, Anura, Hylidae), Arquivos do Museu Nacional 64 (2), pp. 159-179 : 166-170

publication ID

https://doi.org/ 10.5281/zenodo.2580059

DOI

https://doi.org/10.5281/zenodo.4421903

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https://treatment.plazi.org/id/C20AE47D-FFB3-BF49-FCAD-2504FC22FD62

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Phyllomedusa megacephala ( Miranda-Ribeiro, 1926
status

 

Phyllomedusa megacephala ( Miranda-Ribeiro, 1926 ) ( Figs.7-11 View Fig View Phqllomedusa )

Bradymedusa megacephala M IRANDA- RIBEIRO, 1926 . Phyllomedusa hypochondrialis − FUNKHOUSER, 1957 (parte).

Phyllomedusa megacephala − BRANDÃO, 2002.

Phyllomedusa aff. megacephala − BRANDÃO, 2002.

Tipo e localidade-tipo − Holótipo, MNRJ 0 257. Localidade-tipo originalmente referida como “Brasil - Rio de Janeiro?” (MIRANDA- RIBEIRO, 1926), mas veja Comentários.

Diagnose − Espécie pertencente ao grupo de P. hypochondrialis, caracterizada por: (1) tamanho médio para o grupo (CRC 36,1-43,2mm em machos, 41,6-49,1mm em fêmeas); (2) presença de estreita faixa reticulada no lábio superior; (3) padrão formado por células vermelho-alaranjado nas partes ocultas dos flancos e membros locomotores; (4) presença de estreita faixa verde apenas no terço distal da face superior das coxas; (5) presença de padrão de desenho reticulado pouco acentuado nas pálpebras inferiores; (6) ausência de faixa esbranquiçada na lateral do corpo e na face posterior da tíbia.

Comparação com outras espécies − Phyllomedusa megacephala separa-se de P. azurea, P. centralis, P. hypochondrialis e P. nordestina sp.nov. por possuir padrão de colorido das faces ocultas dos braços, região ingüinal, coxas e tíbias formado por células vermelho-alaranjado contornadas por preto (padrão de faixas ou barras pretas sobre fundo v e r m e l h o -a l a r a n j a d o n a q u e l a s e s p é c i e s); adicionalmente, distingue-se de P. azurea e P. nordestina sp.nov. pela estreita faixa verde apenas no terço distal da face superior da coxa (faixa verde larga em todo o comprimento da face superior da coxa naquelas espécies), de P. hypochondrialis pelos discos adesivos pequenos, menores que o tímpano (discos adesivos grandes, maiores que o tímpano naquela espécie) e de P. centralis pelo tímpano muito menor. Difere de P. ayeaye por não apresentar padrão de desenho reticulado nas pálpebras superiores e lábios superior e inferior, região ventral do corpo e membros e região dorsal dos dedos e artelhos (padrão reticulado presente em P. ayeaye), bem como pelos desenhos das partes ocultas laterais, coxas e tíbias maiores e menos definidos (menores e bem definidos em P. ayeaye). Distingue-se de P. oreades pelo tímpano muito menor, discos adesivos maiores e ausência de padrão reticulado nas pálpebras superiores e lábios

superior e inferior, regiões gular e peitoral e faces inferiores do antebraço e braço (padrão reticulado presente em P. oreades) e por não possuir palma da mão e planta do pé escurecidos, de cor cinza (escurecidos em P. oreades). Separa-se de P. rohdei e P. palliata pela ausência de uma faixa lateral esbranquiçada com padrão de manchas e faixas pouco definidas arroxeadas sobre fundo vermelhoalaranjado (presente em P. rohdei) ou com padrão de pequenos riscos pretos longitudinais (presente em P. palliata).

Redescrição − Aspecto robusto ( Fig.7 View Fig ); cabeça mais larga que longa, largura da cabeça cabendo cerca de três vezes no CRC; focinho truncado em vista dorsal ( Fig.8 View Phqllomedusa ), ligeiramente obtuso em vista lateral ( Fig.9 View Phqllomedusa ); narinas pequenas, subcantais, colocadas em pequenas elevações, dirigidas lateralmente, mais próximas da ponta do focinho que dos olhos; distância internasal maior que a distância narinaolho e a largura da pálpebra superior e quase(duas vezes o diâmetro do tímpano, mas menor que o diâmetro do olho e o espaço interorbital; canto rostral distinto, arredondado; região loreal vertical, ligeiramente côncava; lábios não espessados, lábio superior pouco visível de cima; olhos grandes, moderadamente protuberantes; espaço interorbital plano; cristas cefálicas ausentes; tímpano pequeno, verticalmente elíptico; diâmetro do tímpano aproximadamente igual a metade do diâmetro do olho; fraca prega dérmica supratimpânica presente; glândulas parotóides e saco vocal indistintos; língua grande, piriforme, inteira, cobrindo quase todo o assoalho bucal, extensivamente livre e não entalhada atrás; dentes vomerianos ausentes; coanas pequenas, amplamente separadas.

Braços robustos; antebraços ligeiramente hipertrofiados, sem cristas. Mão ( Fig.10 View Phqllomedusa ) com tubérculo palmar pequeno, aproximadamente circular; dedos esbeltos, não palmados e não fimbriados, com discos apicais pouco desenvolvidos, menores que o tímpano; dedo I espessado na base, em oposição aos outros dedos; almofada de asperezas nupciais córneas evidente nos machos, dorsalmente visível na base do dedo I; tubérculos subarticulares e supranumerários únicos, grandes, arredondados.

Pernas curtas, moderadamente robustas; comprimento da coxa ligeiramente maior que o comprimento da tíbia e ambos menores que o comprimento do tarso-pé; soma dos comprimentos da coxa e da tíbia cerca de 80% do CRC; calcanhar atingindo o tímpano quando a perna é adpressa ao corpo; calcanhares se sobrepõem quando as pernas são flexionadas em ângulo reto em relação ao corpo; apêndice calcar e prega tarsal ausentes; tubérculos metatarsais indistintos. Pé ( Fig.11 View Phqllomedusa ) com artelhos esbeltos, não palmados e não fimbriados, com discos adesivos apicais pouco desenvolvidos, menores que o tímpano; artelhos I e II em oposição aos demais; tubérculos subarticulares e supranumerários únicos, grandes, arredondados.

Pele do dorso lisa; região gular e superfícies ventrais do corpo e membros, rugosa; região cloacal moderadamente glandulosa; abertura cloacal não modificada.

Colorido − Em vida, dorso da cabeça e do corpo e região loreal, verdes; borda do maxilar sem faixa branca ou areolado preto; pálpebra inferior brancacenta, com areolado preto pouco evidente. O verde do dorso termina abruptamente na linha dorsolateral, delimitando os flancos e a face ventral do corpo. Flancos amarelo-alaranjados com vermiculado roxo; região ingüinal vermelhoalaranjada com barras roxo escuras interligadas bem definidas, formando células. Braço com faces anterior e posterior amarelo-alaranjadas com barras roxas interligadas bem definidas, formando células; face dorsal percorrida por uma faixa verde no terço distal; face ventral amarelo-alaranjada. Antebraço com face anterior amarelo-alaranjada com barras roxas interligadas bem definidas, formando células; face dorsal verde, que é continuação da faixa de mesma cor do braço que percorre o cotovelo, todo o antebraço e metade externa da superfície dorsal da mão; dedos

amarelos com vermiculado roxo; face dorsolateral com uma faixa cinza com tubérculos brancos; face ventral do antebraço e palma da mão, amareloalaranjado. Faces anterior e posterior da coxa vermelho-alaranjadas, com barras roxo escuras interligadas bem definidas, formando células; face dorsal com uma faixa verde no terço distal, sendo que esse colorido cobre o joelho, continua pela face dorsal da tíbia, cobre o calcanhar, segue pela face dorsolateral posterior do tarso e pé, até a metade do artelho V e um terço do artelho IV; face ventral da coxa amarelo-alaranjada. Faces interna e inferior da tíbia com barras roxas interligadas bem definidas, formando células. Face interna do tarso, pé e artelhos I, II e III, vermelho-alaranjados com barras roxas interligadas bem definidas, formando células; face ventral do tarso e pé cinza-escuro com manchas irregulares amarelo-alaranjadas. Regiões gular, peitoral e abdominal amarelo-alaranjadas; borda da mandíbula sem areolado, mas delimitada inferiormente por uma linha cinza. Região cloacal cinza, delimitada superiormente por estreita linha branca. Íris prateada com fino vermiculado preto.

Em preservativo, as partes verdes em vida tornams e a z u l - e s v e r d e a d o e a s p a r t e s v e r m e l h o - alaranjadas e amarelo-alaranjadas tornam-se creme ou esbranquiçadas; barras roxas interligadas formando células tornam-se pretas.

Medidas do holótipo − CRC 36,1 (cabeça muito arqueada ventralmente); CC 10,9; LC 12,3; DIN 3,5; DNO 2,9; DO 3,6; LPS 2,8; DIO 3,7; DT 2,3 (demais medidas não foram realizadas em função do mau estado de conservação do exemplar).

Variação − Os exemplares examinados são congruentes quanto aos caracteres morfológicos e colorido. Machos são ligeiramente menores que as fêmeas. Amplitude, média e desvio-padrão das medidas de machos e fêmeas são apresentadas na Tabela 2 View TABELA 2 .

Girino − CRUZ (1982) descreveu e figurou o girino de P. megacephala, identificado como P. centralis, com base em exemplares obtidos na Serra do Cipó, Município de Jaboticatubas, Estado de Minas Gerais, Brasil.

Distribuição geográfica − Espécie conhecida apenas do Município de Jaboticatubas, na Serra do Cipó, Estado de Minas Gerais, Brasil, associada ao complexo serrano do Espinhaço ( Fig.6 View Fig ).

Comentários − O rótulo original do holótipo de Bradymedusa megacephala (MNRJ 0257) contém as seguintes informações na parte anterior, manuscritas por A. de Miranda-Ribeiro: “ Bradymedusa megacephala Mir.-Rib.; Rio de Janeiro?; Velha Collecção.; Typo”; no verso, o autógrafo de Alípio de Miranda-Ribeiro. Isso significa que, originalmente e na publicação da espécie, A. de Miranda-Ribeiro não tinha certeza da procedência do exemplar. O mesmo foi referido por BOKERMANN (1966), mas que concluiu ser o exemplar “provavelmente do Rio de Janeiro”. O exemplar pertencia originalmente à “Velha Collecção” do Museu Nacional - Rio de Janeiro, o que significa que o mesmo já se encontrava na coleção antes que A. de Miranda-Ribeiro a organizasse. Os exemplares dessa antiga coleção foram reunidos durante o

século XIX, nos primórdios da instituição, sem qualquer critério científico ou museológico. Eram ainda “curiosidades”, às quais não se associavam dados de coleta. Assim sendo, deve-se considerar que Phyllomedusa megacephala não possui localidade-tipo definida.

O holótipo de Bradymedusa megacephala se encontra atualmente em mau estado, muito friável e com várias fraturas. Cabeça acentuadamente arqueada ventralmente; rachadura (ou corte) transversal na parte posterior da região gular; boca e n t r e a b e r t a, c o m a l í n g u a v i s í v e l; p r e g a s d o r s o l a t e r a i s p r e s e n t e s, a s q u a i s f o r a m mencionadas por MIRANDA- RIBEIRO (1926) como características da espécie, mas que se tratam de artefatos de fixação. Membros anteriores e posteriores muito fraturados, às vezes em várias partes, separados do tronco. Colorido geral marrom- ferruginoso, como já havia originalmente referido MIRANDA- RIBEIRO (1926; “O animal parece ter sido guardado em um vaso de folha de ferro, tendo por isso um accentuado matiz ferrugineo que lhe mascára as cores ...”), mas é possível discernir o padrão de células, barras e manchas subjacente, característico da espécie. Há resquício de almofada nupcial na base do dedo I, o que denota tratar-se de um macho adulto.

Phyllomedusa megacephala foi considerada diferente dos exemplares da Serra do Cipó (tratadas como pertencentes a Phyllomedusa aff. megacephala) por BRANDÃO (2002). Através da comparação desses exemplares com o holótipo de P. megacephala, BR A N D Ã O (2 0 0 2) c o n s i d e r o u q u e e s t a s e r i a distingüida de todos os outros componentes do grupo (considerados P. ayeaye, P. centralis, P. hypochondrialis, P. megacephala, P. oreades e P. rohdei) pelo padrão reticulado dos flancos (visível sob a pátina ferruginosa que cobre o holótipo) e por possuir todo o bordo do lábio superior visível dorsalmente (efeito na verdade dado pela má condição de preservação do exemplar); sugeriu que a Phyllomedusa da Serra do Cipó seria outra espécie, mas reconheceu que melhores comparações precisariam ser feitas para a identificação mais apropriada. A comparação direta do holótipo de P. megacephala com os exemplares examinados por BRANDÃO (2002) e diversos novos exemplares provenientes da Serra do Cipó e de Cristália (MG) ora realizada, permitiu sua associação e elucidação da distribuição geográfica da espécie. Esta efetivamente não ocorre no Rio de Janeiro, mas sim está associada ao complexo serrano do Espinhaço, em Minas Gerais. O coletor do holótipo permanece desconhecido, mas pode-se especular ter sido algum naturalista viajante ou residente na região, associado ao Museu Nacional.

O nome Phyllomedusa megacephala foi utilizado por ETEROVICK & SAZIMA (2004) para a população da Serra do Cipó, Minas Gerais. São fornecidos dados sobre local e época de reprodução, territorialidade, tipo e tamanho da desova, girinos e jovens recémmetamorfoseados e tamanho de machos e fêmeas. Ainda, referem que a espécie foi descrita com base em um exemplar de origem desconhecida e que a espécie da Serra do Cipó estaria sendo reconhecida como P. megacephala e em processo de redescrição (presente trabalho).

TABELA 2. Amplitude, média (χ) e desvio-padrão (DP) das medidas de Phqllomedusa megacephala (n, número de exemplares)

CARACTERES (n = 11) AMPLITUDE x¯ DP (n = 6) AMPLITUDE x¯ DP
CRC 36,1-43,2 39,6 3,68 41,6-49,1 43,7 3,78
CC 10,5-12,7 11,5 2,44 11,5-14,1 12,4 2,52
LC 12,2-14,5 13,3 2,59 13,1-17,5 14,4 2,67
DIN 3,3-4,0 3,7 1,32 3,5-4,5 3,9 1,37
DNO 3,0-3,4 3,2 1,15 3,1-3,6 3,3 1,21
DO 3,9-4,8 4,3 1,47 4,2-5,2 4,6 1,52
LPS 3,1-3,7 3,4 1,22 3,3-3,6 3,5 1,25
DIO 4,2-4,8 4,4 1,49 4,2-4,8 4,6 1,54
DT 1,8-2,3 2,1 0,75 2,0-2,6 2,3 0,83
CCX 14,5-18,4 15,7 2,75 17,2-19,2 17,7 2,88
CTB 13,7-18,3 15,1 2,71 16,2-18,9 17,0 2,84
CTP 22,0-26,1 23,8 3,17 25,0-29,9 26,2 3,27

Kingdom

Animalia

Phylum

Chordata

Class

Amphibia

Order

Anura

Family

Hylidae

Genus

Phyllomedusa

Loc

Phyllomedusa megacephala ( Miranda-Ribeiro, 1926

Caramaschi, Ulisses 2006
2006
Loc

Bradymedusa megacephala M IRANDA- RIBEIRO, 1926

Miranda-Ribeiro 1926
1926
Loc

Phyllomedusa aff. megacephala

Miranda-Ribeiro 1926
1926
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